Nudeletter #1: orgasmo, outono, bruxaria, autocuidado

Descrição do post.

NUDENUDELETTER

Betina Juglair

10/15/20225 min read

Bem-vindes ao nosso mundinho Nude <3 Aqui vamos manter uma comunicação direta, livre e aberta, sempre na primeira semana do mês. Vamos falar de temas que nos atravessam, apresentar nossas marcas e produtos e dar recomendações culturais, tudo permeando o universo expandido da sexualidade! Também vamos dar cupom de desconto (nudeletter1, 10% off) e falar em primeira mão de novidades 😉

No preparo desta primeira nudeletter, nos inspiramos nesta arte quase perdida de escrever intimidades às pessoas e tocá-las na privacidade de seus espaços. Hoje, as Nudes são trocadas em mensagens online, mas foi inevitável pensar nas Nudes do passado, em que era preciso palavras e criatividade para exercitar a imaginação erótica. James Joyce, conhecido autor irlandês, escreveu sórdidas cartas endereçadas à sua esposa, sua “querida linda putinha Nora”. A carta do dia 02 de dezembro de 1909 começa assim:

“Meu amor por você me permite tanto rezar para o espírito de eterna beleza e ternura espelhada em seus olhos quanto jogá-la debaixo de mim com tua barriga macia e te foder por trás, como um porco montado em uma porca, regozijando-se no próprio fedor e suor que sobe do teu rabo, regozijando-se na forma aberta do seu vestido arrebitado e nas cuecas brancas de menina e na confusão das tuas bochechas coradas e cabelos emaranhados.”

É uma pena que as cartas de Nora endereçadas a Joyce tenham sido perdidas, mas o tom safado era recíproc:o: alguns dias depois, em outra carta, Joyce diz que fez o que ela pediu, que era se masturbar enquanto lia a carta dela (ui!)

Há outros exemplos menos explícitos, como quando Virginia Woolf pede que sua amada Vita Sackeville-West “abandone seu homem” e vá encontrá-la, onde podem jantar juntas ao rio, caminhar à luz do luar, beber vinho, conversar e dizer coisas que só chegam à noite: “Abandona teu homem e vem”, escreveu Virginia, apaixonadamente. Virginia escreveu um livro inteiro para Vita, sua grande paixão: Orlando é uma grande carta de amor, em que Vita (Orlando) é retratada como um ser misterioso e sempre jovem, que transita com naturalidade entre tempos, gêneros e relações. Há também a adaptação para o cinema, com Tilda Swinton interpretando Orlando.

Vita-Sackeville West, com seu dog de olhos vivos e tristes. Vita tinha práticas poliamorosas e era bi – cujo dia de Visibilidade foi neste 23 de setembro <3

Com estas nudeletters, não queremos escrever como amantes, e tampouco como mera publicidade como outras lojas e marcas. Queremos ser quase como vossos confidentes, para criarmos juntes um espaço seguro de sexualidade e temas afins. Queremos que também confiem em nós para partilhar dúvidas, buscar sugestões e sugerir temas 😉

Muito do que inspirou a Nude a existir foram justamente experiências pessoais, das grandes mudanças na vida que vieram a partir da exploração saudável da sexualidade, com muita liberdade e prazer. Nem sempre foi assim: não é por ter uma vida sexual ativa que ela é prazerosa, sobretudo nos anos iniciais desta jornada que podem ser bem difíceis.

Um grande problema é o chamado orgasm gap: a diferença que existe no alcance do ápice sexual, com variáveis de gênero e orientação sexual. Uma pesquisa publicada em 2017 nos EUA (e largamente publicizada pela mídia) falava sobre a questão. Em resumo: homens (independente da orientação) gozam mais que mulheres, sobretudo que mulheres hétero, que no espectro sexual e de gênero são as que gozam menos. Dentre as mulheres, as lésbicas eram as mais satisfeitas sexualmente, seguidas pelas bi.

arte irônica por @sheisangry encontrada no IG @theorgasmgap, para adereçar a questão do desconhecimento da anatomia do prazer feminino

Sabemos que sexo não é apenas sobre orgasmo, mas é um bom indicativo para saber o quanto a vida sexual está saudável. Dados coletivos como os desta pesquisa mostram tendências sociais e culturais, e também pontos importantes de atuação, onde devemos nos focar enquanto sociedade. Se Setembro é o mês de cuidar da saúde mental, queremos lembrar que o bem-estar sexual é tão importante e tão conectado quanto: o prazer sexual é peça chave do nosso bem-estar.

A Nude quer olhar para mulheres, incentivar o exercício da sexualidade a partir do respeito, prazer e autoconhecimento: queremos fazer nossa parte para fechar de uma vez este orgasm gap. Estamos aqui para dar-te uma mãozinha: não só com produtos, que podem ser companheiros incríveis nesta jornada, mas também falando de várias nuances que o prazer e sexualidade podem ter (aliás, leram nossa série de posts Caminhos (e desvios) do Orgasmo? Corre lá!)

Depois daquela siririca, antes de o sono bater, às vezes dá vontade de assistir alguma série curtinha, gostosa, com personagens que nos identificamos. Aqui vai uma dica fixe: Insecure (HBO), com 5 temporadas, mostra o cotidiano de jovens adultas negras: dia-a-dia confuso, divertido, com boa música, boas amizades, dates ruins e relações instáveis. É sobretudo sobre amizade, sobre mulheres inseguras tentando descobrir (ou inventar) seus lugares no mundo, numa realidade atravessada por questões raciais e de gênero na sociedade atual.

cena de Insecure, série criada e protagonizada por Issa Rae

O verão é muito gostoso, mas também o outono é lindo: tempo de mudanças, muito favorável à autorreflexão, a dar afeto a si mesma e às tuas pares. Não é à toa que é o mês das bruxas: mulheres em contato íntimo com a natureza, com sua espiritualidade e com as energias ao redor.

Um som muito outonal (e meio bruxa), perfeito para ouvir enquanto estás à espera do sextoy carregar, do bolo crescer ou do chá ficar pronto, é aquele típico folk feito por mulheres nos anos 70: Tapestry, da Carole King, é uma ótima companhia para aquele domingo moroso, que passamos de pijama a olhar pela janela.

Queremos uma sociedade em que todas as mulheres tenham uma vida livre e tranquila para fazer boa música e relaxar com seu gatinho

Num tom tropical, talvez a maior bruxona que temos é Maria Bethânia: com sua voz profunda e seu conhecido cabelo longo e indomável, (agora) grisalho, é a nossa rainha do MPB. Bethânia canta com uma intensidade daquelas que ouvimos com iguais níveis de melancolia e alegria, e se sua voz ecoa pela mesa de bar sabemos que é o momento de abraçar o copo, fechar os olhinhos e olhar pra dentro.

Intensa, como outubro.

Além de ser o mês do outono (aqui no norte) e o mês das bruxas, é também o mês da conscientização do cancro de mama – é importantíssimo o autoexame, que podes ver como fazer aqui, e notando qualquer coisa diferente marcar uma consulta com teu médico!

Por último, além de agradecer a leitura de quem ficou até aqui, queremos dizer que novembro começa com uma surpresinha incrível: teremos sorteio! Fica ligade 😉

Beijinhos e até novembro! <3