Gisberta Salce e a celebração de vidas trans

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POSTNUDE

Betina Juglair

2/22/20222 min read

22 de fevereiro é um dia triste: há 16 anos, no Porto, morria Gisberta Salce, mulher trans, imigrante brasileira, vítima da transfobia e do abandono.

Como tantas pessoas (inclusive as que vos escrevem, neste momento) Gisberta veio a Portugal em busca de melhores condições de vida, embora tenha encontrado violência no país que esperava acolhimento. A expectativa de vida no Brasil de mulheres trans é de 35 anos (metade da média nacional), não encontramos dados equivalentes em Portugal - e a falta de dados é também simbólica do descaso e da falta de interesse em políticas públicas que visem a população LGBTQIA+.

Em 2006 foi Gisberta Salce, em 2021 foi Angelita Correia: depois de desaparecida por 10 dias (sem ter tido divulgação pela mídia), foi encontrada morta numa praia em Matosinhos. Também mulher trans, também imigrante brasileira, sua última mensagem de texto: “Acho que fui sequestrada. Lembrei-me de tudo. Estou com medo de tudo”.

Gisberta gostava muito de dançar e ria muito, nos bares do Porto vestia-se de Marylin Monroe sem precisar de peruca. Tomava cafés com as amigas e tinha dois cães. Angelita era instrutora de fitness e de dança, tinha riso solto era extrovertida. Casada há 3 anos, amada por familiares e amigas, com quem saía e se divertia.
Gisberta e Angelita poderiam ser qualquer uma de nós, qualquer uma de nós poderia ter sido Gisberta e Angelita.

Não há espaço para quem tem a coragem de ser si própria numa sociedade binária e transfóbica: acabam na marginalidade, quando não um corpo sem vida abandonado. Não esqueceremos, seguimos juntas.