As Novas Cartas Portuguesas e o 25 de abril

NUDEPOST

Betina Juglair

4/24/20232 min read

Para comemorar este dia tão importante aqui em Portugal, queremos chamar a atenção a esse livro belíssimo: Novas Cartas Portuguesas, publicado em 1972 por Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa.

O livro foi banido logo de sua publicação, e o processo judicial gerou comoção internacional e atenção aos abusos do regime. Sem dúvida a publicação deste livro foi um abalo no Estado Novo e contribuiu diretamente para a queda do regime!

Manifestações ao redor do mundo em solidariedade às “Três Marias” incluíram: cobertura do julgamento por meios de comunicação internacionais (The Times, Le Nouvel Observateur, etc.); manifestações feministas em várias embaixadas de Portugal; também a defesa pública da obra e das autoras por feministas como Simone de Beauvoir, Marguerite Duras, Doris Lessing, Iris Murdoch.

E por que este livro incomodou tanto?

As Novas Cartas Portuguesas tocaram em pontos muito sensíveis do regime autoritário, como a guerra e os conflitos, a violência, a discriminação, a pobreza, a (ausência de) liberdade, a colonização do corpo político e a imigração, entre muitas outras questões.

Enquanto objecto literário, Novas Cartas é também inovador porque desestabiliza noções de autoria e género literário: o livro é composto por 120 textos (cartas, poemas, relatórios, textos narrativos, ensaios e citações) assinados sempre colectivamente pelas três autoras, ainda que compostos individualmente.

O documentário recentemente lançado “O que podem as palavras”, realizado por Luísa Sequeira and Luísa Marinho, é uma bela viagem ao livro através das suas próprias 3 autoras: é composto por entrevistas concedidas a Ana Luísa Amaral, ilustrações e animações de Sama, e o contar da história da elaboração e recepção do livro.